terça-feira, 10 de abril de 2007

1.600 km de praias....


DIA 1
Pé na estrada de novo! E dessa vez, com o nosso «camping car»... carango bom, parceiro de asfalto, mato, praia e cidade! Costa norte da França... nossa direção. Saímos de Poitiers e depois de uma hora e meia paramos em Saint-Jean-de-Monts, uma praia muuuito parecida com Tramandaí, tirando o fato dela estar no outro lado do Atlântico, ehehehe. Praia extensa, com pier, calçadão, bares, restaurantes. Bonita, mas nada demais. Almoçamos nosso baguete com atum, queijo e salada e partimos. Mais adiante, paramos em Pornic, essa sim, linda!!! A cidadezinha é um charme, cheia de ruelas, escadarias, restaurantes e lojinhas de artesanato. Estava entupida de gente, acho que lá é um dos balneareos mais balados da parte sul da costa da bretanha. Vimos um tumulto numa sorveteria... e lá fomos nós também... sorvete de pera com chocolate... hummm



A partir daqui a paisagem já muda bastante... bem diferente da região de Poitiers (que é bonita também, mas possui um ar 'pesado'). A costa é mais alegre, cheia de vida... As pessoas são mais descotraídas, leves, sorriem mais. Ao longo de toda a estrada, plantações de mostarda vão colorindo e contrastando com o verde dos campos. Vacas leiteiras vimos aos montes. Flores, também. Nesta parte a natureza é muito mais preservada e grandiosa. Morros, falésias, rios largos vistos do alto das pontes, mas do alto mesmo!!!! Barcos encalhados na maré baixa, casinhas brancas e centenas de camping-car. Todos vão acampar com suas famílias, cheios de conforto, água e banheiro. Nós, ainda humildes, ficamos com o nosso carrinho véio-de-guerra-do-Ibama-francês... eheheeheh
Depois de passar por diversas praias e cidadezinhas, terminamos o dia em Quiberon, na «Costa Selvagem», uma região de praias virgens e desertas.. Escolhemos uma beeem vazia para ver o pôr-do-sol no Atlântico!!! Apesar do frio congelante da água, o Shay não resistiu e resolveu enfrentar as mini-ondas que estavam quebrando.. eheheh... 15 min de surf e quaaase uma hipotermia...O melhor jeito de aquecer? Tomando vinho, claro! Fim de tarde lindo, com o sol nos dando au revoir! Já noite, seguimos até Etel, outro pico de surf da região. Demos uma volta na cidade e procuramos um lugar para estacionar o carro e poder dormir. O melhor dessa vida de casa-ambulante é não saber onde você vai acordar. É chegar de noite em um lugar, tudo no escuro e sem conseguir enxergar muito longe, e esperar amanhecer pra ver como é em volta...Nossa estréia não podia ser melhor... janta preparada dentro do carro mesmo porque fora era impossível acender o fogo (muito vento), narguilé e conversa fiada. Tirando uns barulhos que ouvimos na rua, trancados no nosso camping-car, dentro dos nossos sacos de dormir, tudo foi lindo e tranquilo.



DIA 2

Quando acordamos vimos uns coelhinhos correndo num campo na beira da praia, acho que foram eles que fizeram o barulho que nos assustou... Descemos e demos uma caminhada pela praia (sim, paramos o carro num lugar lindo, sem querer – eheheheh!). Hoje não tinha nada de onda quebrando, mas mesmo assim valeu. A praia é bonita, deserta, com várias pedrinhas e uma piscina natural antes de chegar no mar. Virou uma das preferidas de toda a viagem: Barra de Étel.
Seguimos em direção ao norte, sempre pela costa. Sem querer entramos numa praia chamada Guidel. Um lugar especial. Realmente especial. Areia branquinha e um mar azul. A estrada passa bem pela orla. As casas são todas claras com telhado escuro, formando um 'V'. Como essa região é muito fria, os bretões precisaram arrumar um jeito de aquecer melhor seus lares. Por isso, todos tem esse telhado. Todos iguais. A cidade possui um astral diferente, sabe aqueles lugares que a gente se sente em casa, que rola uma empatia com o ambiente e as pessoas? Assim é Guidel. Do lado desta praia, tem outra (também em Guidel), com ondas, areia amarela e extensa. Uma baia grande e preservada, sem calçadões e prédios. Tinham algumas pessoas surfando, só que estava muito pequeno e o frio muito grande. Ficamos curtindo um pouco e fomos adiante. Um cara nos falou de um outro lugar pra surfe na região, La Torch. No caminho pra lá, passamos por Pont Aven, uma cidadezinha com um porto pequeninho, casas diferentes, um riozinho com moinho e artistas. Linda, agradável, uma vontade de ficar... Mas La Torch estava perto.... na chegada, um campo de flores! De todas as cores! Elas eram vendidas ali mesmo.. mas a gente não comprou nada.. Melhor deixá-las na terra... eheheheh... La Torch estava lotada, cheia de franceses e turistas estrangeiros. A beira da praia é longe da cidade. Não tem rua asfaltada, nada, só um caminho de areia, um estacionamento, uns 3 bares, umas dunas e do outro lado delas, o mar. Jovens, crianças, velhinhos e crianças, todos aproveitando o sol e a água, que continuava gelada. O Shay surfou uma meia hora, mas as ondas ainda estavam pequenas. Antes de deixar La Torch, almoçamos nosso pãozinho com atum e saladas. Próxima parada: Douarnenez, uma daquelas cidades especiais... com um astral diferente, colorida, uma cidade com personalidade.. ehehehe.. uma volta rápida de carro e.... dá-lhe estrada.

Agora tocamos um pouco, sem entrar em tantas praias. Passamos por Brest, a maior cidade da costa. Um porto bem grande, com navios de cruzeiros e um clima meio pesado. Como Brest foi totalmente destruída durante a Segunda Guerra Mundial, os prédios não tem mais aquele estilo antigo, igual aos das outras cidades que visitamos. São prédios novos, avenidas largas, mas tudo num clima de decadência, de cidade portuária...Passamos reto e e paramos em Roscoff, agora sim bem ao norte, de frente para a Inglaterra, quase no Canal da Mancha. Chegamos já no fim da tarde, mas a tempo de ver um pôr-do-sol incrível, atrás da torre de uma igreja, com a cidade em volta, na beira do mar. Uma das cenas mais bonitas da trip! Roscoff também é linda, uma vila com casas de pedras, super antiga, com uma ruela cheia de pizzarias e creperias e uma baía cheia de barquinhos. Decidimos passar a noite ali, mas procuramos um lugar mais afastado da cidade, mais próximo da praia. Cada uma dessas cidadezinhas tem, geralmente, a baia principal ou porto, onde ficam ancorados os barcos e veleiros e, depois, outras praias de veraneio mesmo, onde o pessoal vai tomar sol e nadar. Em Roscoff, descobrimos uma escondida no meio das rochas, cercada por um mato e bem pequeninha. Paramos ali para preparar a janta. Um silêncio quebrado só pelo mar batendo nas pedras. Céu estrelado e luzes da Inglaterra no horizonte. Massa, vinho e velas pra iluminar! Depois procuramos outro lugar para dormir porque ali era muito isolado. Para chegar tivemos que pegar uma trilha estreita no meio do mato que nos obrigou a sair de ré com o carro. Achamos uma área para camping-car! Nossos vizinhos já estavam dormindo quando chegamos. Essa noite sim foi fria... Bem fria. O carro amanheceu com o teto molhado, pingando sereno..

DIA 3
Partimos para Morlaix, onde paramos pra tomar café da manhá. Compramos um 'pain au chocolat' e demos uma caminhada pela cidade, que era super bonita. Uma vila com prédios e casas em vários estilos, nada parecido com praia. Um frio de gelar, 9 horas da manhã bem no norte da França, em plena Bretanha, terra de piratas, navegadores e povo raçudo, acostumado a enfrentar tempestades e longos invernos. Seguimos viagem. Passamos por mais algumas praias no caminho até encontrar uma placa que dizia «circuito das falésias».... era justamente isso que estávamos procurando! Pegamos a estrada indicada, subimos morros e paramos no topo de um mirante de onde pudemos avistar algumas das praias mais lindas de toda a trip... Praias lááááá embaixo, cercadas por falésias, um mar azul quase turquesa e o sol brilhando na água.. lindo de morrer...
Paramos pára fazer um lanche numa praia chamada Trestrignel, a vista de cima dessa baia é de tirar o fôlego...Vimos um senhor no alto dos seus 70 anos entrar no mar gélido só de sunguinha, nadar de ponta a ponta, sair sorrindo, todo faceiro, se trocar e ir embora.. Isso que é disposição...
Nossa tarde estava indo e precisávamos voltar para Poitiers ainda hoje. De Trestrignel fomos direto para Saint-Malo, na Costa de Esmeralda. Uma cidade na beira do mar, cercada por altas muralhas. Prédios escuros, altos, de pedra....reformados preservando o estilo antigo, depois do bombardeio em 1944, na Segunda Guerra Mundial. Saint-Malo parece um labirinto. A gente não para de andar e descobrir ruas, caminhos e passagens para a praia. Uma cidade cheia de turistas. Na beira de uma das praias foi construída uma piscina natural, que é enchida toda vez que a maré sobe. Saint-Malo é a cidade dos corsários, piratas que eram autorizados pelo governo a pilhar navios de outras nações, enfraquecendo inimigos, roubando seus tesouros e perturbando suas rotas marítimas.
Fim da viagem: Mont Saint Michel, uma Abadia construída no século X, em um monte rochoso, local da segunda maré mais alta do mundo, o desnível chega a 15 metros!! Quando a gente chegou a maré estava baixa, tão baixa que tudo parecia um deserto, não dava pra ver o mar (às vezes a beira mar chega a atingir 18km de distância). A paisagem é fantástica e perigosa, pois existe areia movediça...Várias placas aconselham os turistas a não se afastarem muito do Monte.... Duas vezes por dia, a maré sobe numa velocidade rapidíssima, transformando a cidadela em uma ilha.. muitos turitas já foram pegos desprevinidos pela força da água.. esses que se aventuram pra muito longe.. Uma placa com o horário atualizado das marés fica bem na entrada das muralhas externas. Cruzando o portão, o trajeto até o topo do monastério passa por uma cidadezinha, que, na verdade possui apenas uma rua repleta de lojinhas de souvenirs, artesanato, restaurantes e um hotel. No Monte Saint-Michel a sensação é de estar literamente no fim do mundo!! Parece que estamos num deserto, não existe nada em volta, só o Monte. Conta a lenda que no século X, o arcanjo São Miguel apareceu num sonho para o bispo da cidade de Avranches e pediu à ele para que fosse construída um igreja no topo daquele rochedo. Com essa paisagem insólita terminamos nossa viagem... foram 1600 km em 3 dias, diversas praias, lembranças, cores, falta de banho, frio, noites estreladas, jantas na beira do mar...até a próxima!

2 comentários:

Anônimo disse...

legal!!

Anônimo disse...

legal